Por Sylvio Micelli
O anúncio da realização da Copa América 2021 no Brasil gerou discussões acirradas, num momento em que tudo vira um Fla-Flu. A verdade é que o que menos importa é a bola, porque tudo virou discussão de instrumentalização política. O torcedor, então, já foi alijado do processo há muito tempo.
Ao presidente Jair Bolsonaro, a realização de um evento esportivo vem a calhar. Ele tira o foco da CPI da Pandemia. Além disso, negacionista que é, quer bancar o evento para ratificar suas opiniões sobre a pandemia e o isolamento. Fará discurso para convertidos, apoiadores que certamente irão apoiá-lo e chamá-lo de mito.
A disputa também gera uma briga entre a Globo e o SBT. A emissora de Sílvio Santos detém os direitos de transmissão da competição. Desta forma, fica cômodo aos grandes narradores da Globo descarregarem sua verborragia contra o evento. Mas que fique bem claro, o interesse é meramente financeiro.
Por fim, os jogadores argentinos prometem boicotar a competição, porque ela saiu de seus territórios.
No frigir dos ovos, o que temos aqui é um bando de hipócritas. O presidente usará o evento para fins políticos, a emissora carioca está remoendo suas dores em praça pública e os argentinos trazem à baila, como um tango de Piazzolla, a velha disputa regional travada com os brasileiros.
A verdade é que não deveria haver competições em território sul-americano, que tem ainda graves problemas com o controle da pandemia. No entanto, todos tem ocorrido normalmente: campeonatos regionais, campeonato brasileiro, libertadores, sulamericana etc etc etc.
Então, ou suspendemos tudo e não realizamos nada, ou engulamos mais uma competição e seja o que Deus quiser.
“Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”. Isso já nos ensinou o inesquecível jornalista Stanislaw Ponte Preta, há mais de 50 anos.